Logo ASBAI

Revista oficial da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia ASBAI
Revista oficial da Sociedad Latinoamericana de Alergia, Asma e Inmunología SLaai

Número Atual:  Janeiro-Março 2017 - Volume 1  - Número 1


Artigo Original

Conhecimento e implementação de medidas de controle ambiental no manejo da asma e da rinite alérgica

Knowledge and implementation of environmental control measures in the management of asthma and allergic rhinitis

Ana Paula W. Fabro1; Katia L. Jojima1; Márcia Mallozi2; Dirceu Solé3; Gustavo F. Wandalsen4


DOI: 10.5935/2526-5393.20170009

1. Especialista em Alergia e Imunologia Clínica. Disciplina de Alergia, Imunologia Clínica e Reumatologia do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina - EPM/UNIFESP
2. Médica e Chefe do Ambulatório de Alergia. Disciplina de Alergia, Imunologia Clínica e Reumatologia do Departamento de Pediatria - EPM/UNIFESP
3. Professor Titular. Disciplina de Alergia, Imunologia Clínica e Reumatologia do Departamento de Pediatria - EPM/UNIFESP
4. Professor Adjunto. Disciplina de Alergia, Imunologia Clínica e Reumatologia do Departamento de Pediatria - EPM/UNIFESP


Endereço para correspondência:

Gustavo F. Wandalsen
E-mail: gfwandalsen@uol.com.br


Submetido em: 10/01/2017
Aceito em: 15/02/2017
Nao foram declarados conflitos de interesse associados à publicaçao deste artigo.

RESUMO

OBJETIVO: Avaliar o conhecimento de pais ou responsáveis por pacientes sobre medidas de controle ambiental no manejo da asma e da rinite alérgica, bem como a implementaçao destas medidas.
MÉTODOS: Estudo transversal, descritivo, que incluiu pacientes entre 5 e 18 anos, com asma e/ou rinite alérgica, sensibilizados a alérgenos inalatórios domésticos. Os entrevistados responderam questionário sobre sensibilizaçao alérgica, medidas de controle ambiental e exposiçao ao tabagismo passivo.
RESULTADOS: Foram incluídos 122 pais ou responsáveis. Embora 97% acreditassem que seu filho tinha uma doença alérgica, apenas 43% conseguiam relacionar os sintomas da doença à presença de alérgenos. O percentual de pais capaz de referir os alérgenos para os quais seus filhos estavam sensibilizados foi de 88% para ácaros, 56% para fungos, 41% para baratas e gatos, e 40% para caes. Medidas para controle de ácaros foram adotadas por 83% das famílias, com exceçao das capas antiácaros, utilizadas por 39%. Entre donos de caes e gatos, 57% nao permitiam que seus animais entrassem na casa; 21 % dedetizavam a casa contra baratas. Entre os familiares tabagistas, 14% pararam de fumar.
CONCLUSOES: A maioria dos entrevistados reconheceu que seu filho tinha uma doença alérgica, mas grande parte nao relacionou os sintomas da doença à exposiçao a alérgenos. Grande percentagem dos entrevistados cujos filhos eram sensibilizados a fungos, baratas, gatos e caes nao soube referir este resultado. Os entrevistados aplicavam medidas gerais para controle de alérgenos, mas a maioria nao implementava algumas medidas com benefício comprovado para uma estratégia abrangente de controle ambiental.

Descritores: Alérgenos, saúde ambiental, asma, rinite, criança.




INTRODUÇAO

A asma e a rinite alérgica sao doenças comuns em todo o mundo e acometem indivíduos de todas as idades1,2. A prevalência destas doenças vem aumentando em diversos países, principalmente entre as crianças3,4.

Estudos epidemiológicos têm demonstrado que a sensibilizaçao a alérgenos inalatórios, mediada por IgE, é um fator de risco importante para asma e rinite alérgica4,5. Os principais alérgenos inalatórios domésticos sao ácaros da poeira, baratas, caes, gatos e fungos5,6. A exposiçao de pacientes sensibilizados a altos níveis destes alérgenos está relacionada ao aumento da inflamaçao das vias aéreas e à maior gravidade de sintomas5,7. Além dos alérgenos inalatórios, a presença de material particulado no ar, tendo como principal fonte a fumaça do cigarro, também tem sido associada à morbidade da asma6,8.

Atençao especial deve ser dada às crianças atópicas que vivem em grandes cidades, uma vez que a maioria delas é sensibilizada a múltiplos alérgenos9, passa a maior parte do tempo em ambientes fechados, e frequentemente está exposta a alérgenos inalatórios e ao tabagismo passivo em suas casas e escolas10. Estudos recentes demonstram que, para crianças e adolescentes com asma, intervençoes ambientais individualizadas, abrangentes e com foco em múltiplos desencadeantes sao eficazes para reduzir a exposiçao a alérgenos domésticos, resultando em reduçao da morbidade e melhoria da qualidade de vida6,11,12. Entretanto, para que as medidas de controle ambiental sejam aplicadas, é necessário que as famílias entendam a relaçao entre exposiçao a alérgenos e sintomas, estejam motivadas e tenham condiçoes práticas de incluir as medidas recomendadas em suas rotinas13.

Este estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o conhecimento de pais ou responsáveis por pacientes em relaçao às medidas de controle ambiental no manejo da asma e da rinite alérgica, bem como a implementaçao destas medidas em suas moradias.

 

MÉTODOS

Foi realizado um estudo observacional, transversal. A amostra de pacientes foi selecionada por conveniência, entre os pacientes atendidos no ambulatório de Alergia da Disciplina de Alergia, Imunologia Clínica e Reumatologia do Departamento de Pediatria

da Universidade Federal de Sao Paulo, entre maio de 2013 e janeiro de 2014. Foram incluídos pacientes entre 5 e 18 anos, de ambos os gêneros; com diagnóstico clínico de asma e/ou rinite alérgica; que apresentavam sensibilizaçao a pelo menos um alérgeno inalatório comprovada por teste cutâneo e/ou IgE sérica específica; e que estavam em acompanhamento neste ambulatório há pelo menos 6 meses.

Com base na literatura disponível sobre o tema, foi desenvolvido um questionário para avaliar o conhecimento dos responsáveis pelos pacientes em relaçao às medidas de controle ambiental no manejo da asma e da rinite alérgica, e a implementaçao destas medidas em suas moradias. Doze médicos especialistas em Alergia e Imunologia Clínica que trabalham em nossa instituiçao revisaram o questionário inicial e opinaram sobre a relevância de cada pergunta incluída. O questionário utilizado está apresentado no Anexo 1. Para cada paciente coletamos dados referentes à idade, gênero, diagnósticos clínicos e resultados de testes cutâneos e/ou IgE sérica específica. Foram considerados sensibilizados a alérgenos inalatórios os pacientes com resultados de testes cutâneos e/ou IgE sérica específica positivos para um ou mais dos seguintes alérgenos: ácaros (D. pteronyssinus, D. farinae, B. tropicalis), baratas (B. germanica, P. americana), fungos, cao e gato. Foram obtidos ainda dados referentes à idade, escolaridade e história médica de atopia do responsável pelo paciente. Os pais ou responsáveis foram interrogados a respeito de seu conhecimento sobre o que é alergia, alérgenos aos quais o paciente é sensibilizado, conhecimento de medidas para reduzir a exposiçao a estes alérgenos, exposiçao ao tabagismo passivo e medidas de controle ambiental implementadas em suas residências.

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Sao Paulo - Hospital Sao Paulo. Todos os pais ou responsáveis pelos pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O programa Excelr 2013 foi utilizado para a análise descritiva dos dados obtidos. O teste de qui-quadrado foi utilizado para comparar o nível de escolaridade e a história pessoal de atopia dos pais ou responsáveis com o número de acertos nas questoes propostas.

 

RESULTADOS

Foram incluídos 122 pais ou responsáveis por 122 pacientes. A média de idade dos pacientes foi 11 anos e 65% eram do gênero masculino. Todos os pacientes tinham o diagnóstico de rinite alérgica e 86% também tinham asma. O responsável entrevistado foi a mae em 93% dos casos, o pai em 2%, e outro cuidador em 5%. A média de idade do entrevistado foi 39 anos, e 45% deles referiam história pessoal de doença atópica. Quanto à escolaridade, 43% dos entrevistados tinham ensino fundamental, 51% ensino médio e 6% ensino superior.

Para avaliaçao da sensibilizaçao aos alérgenos inalatórios domésticos, 88% dos pacientes realizaram testes cutâneos, 10% pesquisa de IgE sérica específica e 2% ambos os exames. Os resultados destes exames demonstraram que 98% dos pacientes eram sensibilizados a ácaros, 34% a baratas, 14% a gatos, 8% a caes e 7% a fungos. Quarenta e um por cento dos pacientes eram sensibilizados a dois ou mais destes alérgenos.

A maioria (97%) dos entrevistados respondeu acreditar que seu filho tinha uma doença alérgica. Entretanto, quando foi solicitado que explicassem o que era alergia, apenas 43% conseguiram relacionar os sintomas apresentados pela criança à presença de alérgenos.

Os responsáveis também foram questionados se sabiam a que seus filhos eram alérgicos. Suas respostas foram comparadas aos resultados dos testes cutâneos e/ou IgE sérica específica. O percentual de pais e responsáveis capazes de referir os alérgenos para os quais seus filhos eram sensibilizados está apresentado na Tabela 1.

 

 

Oitenta e dois por cento dos entrevistados referiram ter recebido orientaçoes sobre medidas de controle ambiental para o tratamento da asma e da rinite alérgica pelos médicos de seus filhos. A Tabela 2 mostra o percentual de pais e responsáveis que foram capazes de exemplificar medidas de controle ambiental específicas para os alérgenos aos quais seus filhos estavam sensibilizados.

 

 

Em 35% das famílias havia pelo menos uma pessoa que fumava, e 65% dos entrevistados referiram que seus filhos frequentavam ambientes com tabagistas presentes. Entretanto, apenas 3% dos entrevistados mencionaram conhecer alguma medida para reduzir a exposiçao ao tabagismo passivo.

A história pessoal de atopia (presente: 49% vs ausente: 37%; p > 0,05) e o nível de escolaridade dos pais ou responsáveis (ensino fundamental: 47% vs médio e/ou superior: 37%; p > 0,05) nao foram associados à capacidade deles referirem corretamente os alérgenos para os quais seu filho era sensibilizado, assim como de exemplificar medidas de controle ambiental específicas para estes alérgenos.

Por fim, pais e responsáveis foram questionados diretamente sobre as medidas de controle ambiental implementadas por suas famílias. Os resultados estao apresentados na Tabela 3.

 

 

DISCUSSAO

A sensibilizaçao a alérgenos inalatórios mediada por IgE é um fator de risco importante para asma e rinite alérgica4,5. A exposiçao de pacientes sensibilizados a altos níveis destes alérgenos está relacionada ao aumento da inflamaçao das vias aéreas e à maior gravidade dos sintomas5,7. Em crianças e adolescentes com asma, intervençoes ambientais individualizadas, abrangentes e com foco em múltiplos desencadeantes sao eficazes para reduzir a exposiçao a aeroalérgenos domésticos, resultando em reduçao da morbidade e melhoria da qualidade de vida6,11,12. Entretanto, para que as medidas de controle ambiental sejam aplicadas, é necessário que as famílias entendam a relaçao entre exposiçao a alérgenos e sintomas, estejam motivadas e tenham condiçoes práticas de incluir as medidas recomendadas em suas rotinas13. Avaliar o conhecimento de pais ou responsáveis de pacientes em relaçao às medidas de controle ambiental, bem como a implementaçao destas medidas em suas moradias, permite ao médico assistente compreender a forma como estas famílias se relacionam com o tema e criar estratégias para melhorar o atendimento a estes pacientes.

Neste estudo foram entrevistados 122 pais ou responsáveis por pacientes com asma e/ou rinite alérgica que apresentavam sensibilizaçao a pelo menos um alérgeno inalatório (ácaros, baratas, fungos, caes, gatos) comprovada por teste cutâneo e/ou IgE sérica específica. Nesta populaçao, 41% eram sensibilizados a dois ou mais destes alérgenos. Além disso, 35% dos pacientes moravam com pelo menos uma pessoa que fumava e 65% frequentavam ambientes com tabagistas presentes. Quando se discute medidas de controle ambiental para o tratamento de doenças atópicas, atençao especial deve ser dada às crianças. A maioria delas é sensibilizada a múltiplos alérgenos9, passa a maior parte do tempo em ambientes fechados, e frequentemente está exposta a alérgenos inalatórios e ao tabagismo10.

Apesar de 97% dos entrevistados responderem que seus filhos tinham uma doença alérgica, apenas 43% conseguiram relacionar os sintomas apresentados pela criança à presença de alérgenos. O percentual de entrevistados capazes de referir os alérgenos para os quais seus filhos estavam sensibilizados, em comparaçao aos resultados de testes cutâneos e/ou IgE sérica específica, foi de 88% para ácaros, mas menor para fungos (56%), baratas (41%), gatos (41%) e caes (40%). A nao percepçao da relaçao entre exposiçao a alérgenos e sintomas pode afetar a aderência às medidas de controle ambiental. A relaçao temporal entre exposiçao e sintomas pode nao ser imediata, pois a deposiçao dos alérgenos nas vias aéreas varia de acordo com o tamanho da partícula e sua aerodinâmica5. Além disso, os pacientes podem associar seus sintomas à presença de desencadeantes inespecíficos, nao compreendendo que estes fatores agem sobre um pulmao cronicamente inflamado, devido à exposiçao aos alérgenos inalados3. O grande desafio é educar os pacientes para que compreendam esta relaçao e participem ativamente do controle de suas doenças13.

Apesar de todos pacientes serem acompanhados em serviço especializado há no mínimo seis meses, apenas 82% dos entrevistados referiram ter recebido orientaçoes sobre medidas de controle ambiental pelos médicos de seus filhos. O percentual de cuidadores que foram capazes de exemplificar medidas específicas para os alérgenos aos quais seus filhos estavam sensibilizados foi de 96% para ácaros, 33% para fungos, 29% para gatos, 20% para caes e 5% para baratas. Além disso, apesar do grande número de pacientes expostos ao tabagismo passivo, apenas 3% dos entrevistados mencionaram medidas para reduzir esta exposiçao.

Medidas de controle ambiental certamente podem ser realizadas por famílias motivadas. A abordagem destas medidas deve incluir a identificaçao das fontes de alérgenos, informaçoes sobre os métodos para reduzir a exposiçao, e educaçao ampla sobre os diversos aspectos da doença. Estas instruçoes sao parte importante do tratamento, desmistificando a doença e convencendo os pacientes de que eles podem desempenhar um papel importante no controle de seus sintomas13.

Os pais e responsáveis também foram questionados sobre as medidas de controle ambiental efetivamente implementadas por suas famílias. A maioria (95%) deles referiu arejar a casa diariamente, 90% optaram por usar pisos frios, 98% passavam pano no chao todos os dias ou semanalmente e 95% trocavam e lavavam roupas de cama todas as semanas. Além disso, 84% procuravam reduzir objetos acumuladores de poeira, 84% retiraram tapetes da casa e 83% retiraram brinquedos de pelúcia.

As espécies mais comuns de ácaros presentes na poeira doméstica sao Dermatophagoides pteronyssinus, Dermatophagoides farinae e Blomia tropicalis. Cisteíno proteases encontradas em suas fezes sao potentes indutores de doenças alérgicas14. Em pacientes com asma, a sensibilizaçao aos ácaros está associada ao maior uso de medicaçao, uso de serviços de saúde e hospitalizaçoes15.

Evidências sugerem que as estratégias mais efetivas para o controle dos ácaros em longo prazo fazem parte de um plano abrangente, que inclua medidas como a limpeza regular do ambiente, lavar roupas de cama em água quente semanalmente, encapar travesseiros e colchoes, manter a umidade abaixo de 50%, além de remover brinquedos de pelúcia, mobília estofada, cortinas e tapetes da casa5,15. O uso de um conjunto de medidas físicas simples para controle de ácaros pode levar à melhora da funçao pulmonar e à reduçao de hospitalizaçoes em crianças com asma16.

Medidas para o controle de ácaros foram adotadas por pelo menos 83% das famílias deste estudo, com exceçao do uso de capas antiácaros para colchoes e travesseiros, utilizadas por apenas 39%. Para crianças com asma, o uso destas capas pode levar à reduçao significativa da exposiçao aos ácaros no longo prazo17. A baixa aderência a esta medida pode ser, em parte, justificada pelo nível socioeconômico da populaçao avaliada.

Para reduzir a presença de alérgenos de animais domésticos, 57% dos entrevistados optaram por nao ter animais de estimaçao. Entre donos de caes e gatos, 57% nao permitiam que seus animais entrassem no quarto ou em áreas comuns da casa, 48% lavavam os animais semanalmente e 39% usavam capas anti-ácaros para colchao e travesseiro. Gatos e cachorros sao os animais domésticos mais relacionados às doenças atópicas15. A exposiçao de crianças sensibilizadas a estes alérgenos contribui para os sintomas da rinite alérgica18 e está relacionada ao aumento da gravidade, uso de medicaçao de resgate e frequência de sintomas da asma10. A retirada do animal do ambiente é a estratégia de controle ambiental mais efetiva19,20. O uso de filtros HEPA reduz os níveis de alérgenos de forma modesta, nao comparável ao efeito da remoçao do animal8. Para famílias relutantes em abrir mao de seus animais, a retirada do animal do quarto de dormir, a limpeza agressiva e a ventilaçao do ambiente, e o uso de capas para colchao e travesseiro podem ajudar a reduzir os níveis de alérgenos15,20. Lavar os animais também ajuda, porém o efeito nao é sustentado. Gatos deveriam ser lavados a cada semana e caes duas vezes por semana15.

Entre os entrevistados, 87% limpavam sistematicamente o ambiente para evitar baratas. Ainda assim, 41% referiam a presença destes insetos. Apenas 21% referiram ter dedetizado a casa. As principais espécies de barata relacionadas à sensibilizaçao alérgica sao a Blattella germanica e a Periplaneta americana15. A exposiçao de crianças sensibilizadas a altos níveis de alérgenos de baratas está relacionada à gravidade de sintomas da asma, exacerbaçoes e hospitalizaçoes21. Medidas para reduzir os níveis destes alérgenos devem ser efetivas para remover os insetos e prevenir reinfestaçoes. As intervençoes podem incluir limpeza minuciosa do ambiente, reparo de defeitos estruturais, aplicaçao de inseticidas, além do extermínio profissional de pragas. Este conjunto de medidas é eficaz em reduzir os níveis de alérgenos e melhorar os sintomas da asma22,23.

A exposiçao a fungos como Alternaria, Cladosporium, Aspergillus e Penicillium é fator de risco para asma10 e rinite24. Em crianças asmáticas, esta exposiçao está associada à maior morbidade, frequência de sintomas e hospitalizaçoes10. Entre os pais e responsáveis entrevistados, 22% referiram morar em casas úmidas e 17% referiram a presença de mofo em suas residências. Destes, 80% limpavam ou removiam objetos mofados e 56% tentavam reduzir pontos de umidade ou infiltraçao. Medidas de controle ambiental, como reduçao da umidade, isolamento e aquecimento do ambiente, reparo de vazamentos e uso de filtros HEPA para reduzir os esporos suspensos no ar vêm sendo relacionadas à reduçao dos sintomas da asma10, entretanto, essas evidências sao de qualidade moderada, e mais estudos randomizados sao necessários para a recomendaçao de medidas definitivas25.

Além dos alérgenos domiciliares, a presença de material particulado no ar, tendo como principal fonte a fumaça do cigarro, também tem sido associada aos sintomas e à morbidade da asma8. Poluentes do tabaco podem persistir nas superfícies e na poeira doméstica durante meses, deixando as crianças suscetíveis aos seus efeitos nocivos10. Entre os entrevistados, 35% referiram que seus filhos moravam em residências com pelo menos uma pessoa que fumava e 65% referiram que seus filhos frequentavam ambientes com tabagistas presentes. Entre os pais ou responsáveis tabagistas, 62% referiram nao fumar no quarto ou em áreas comuns da casa e apenas 14% pararam de fumar. A única estratégia de controle ambiental efetiva contra os efeitos nocivos do cigarro é evitar o tabagismo passivo15. Fumar fora de casa nao protege completamente as crianças da exposiçao ao cigarro. Em residências cujos moradores tabagistas referem fumar fora de casa, a exposiçao à fumaça do cigarro é 5 a 7 vezes maior do que em residências sem tabagistas26. O uso de purificadores de ar (HEPA) pode reduzir as concentraçoes de materiais particulados em 50% ou mais, embora seu uso nao seja superior à suspensao do tabagismo8.

Por fim, ao discutir medidas de controle ambiental para o tratamento de doenças atópicas em crianças, deve-se considerar que a maioria delas é sensibilizada a múltiplos alérgenos9. Neste estudo, 41% dos pacientes eram sensibilizados a dois ou mais aeroalérgenos domésticos. Trabalhos realizados com crianças com asma, que incluíram intervençoes ambientais abrangentes, realizadas no ambiente doméstico, com foco em múltiplos desencadeantes e baseadas no perfil de sensibilizaçao e exposiçao de cada paciente, provaram que esta abordagem é eficaz para reduzir a exposiçao a alérgenos domésticos, resultando em reduçao da morbidade e melhoria da qualidade de vida11,12.

Com este trabalho, pudemos concluir que apesar da maioria dos entrevistados reconhecer que seus filhos tinham uma doença alérgica, apenas 43% deles conseguiram relacionar os sintomas da doença à exposiçao a alérgenos. Além disso, grande percentagem dos entrevistados cujos filhos eram sensibilizados a fungos, baratas, gatos e caes nao soube referir este resultado, e menos de um terço deles conseguiu citar medidas de controle ambiental específicas para estes alérgenos. Apesar do grande número de pacientes expostos ao tabagismo passivo, apenas 3% dos entrevistados mencionaram medidas para reduzir esta exposiçao.

Em relaçao à implementaçao das medidas ambientais, percebemos que os entrevistados compreendiam e aplicavam medidas gerais para controle de aeroalérgenos em suas casas. Entretanto, apesar de orientados durante as consultas médicas, a maioria dos entrevistados nao implementava algumas medidas com benefício comprovado quando utilizadas dentro de uma estratégia abrangente de controle ambiental, como o uso de capas antiácaros, controle químico de baratas e suspensao do tabagismo.

 

REFERENCIAS

1. Global Initiative for Asthma. Global Strategy for Asthma Management and Prevention. Disponível em: http://www.ginasthma.org/documents/4.

2. Brozek JL, Bousquet J, Baena-Cagnani CE, Bonini S, Canonica GW, Casale TB, et al. Allergic Rhinitis and its Impact in Asthma (ARIA) guidelines: 2010 Revision. J Allergy Clin Immunol. 2010;126:466-76.

3. Erwin EA, Platts-Mills TAE. Allergens. Immunol Allergy Clin N Am. 2005;25:1-14.

4. Roberts G, Xatzipsalti M, Borrego LM, Custovic A, Halken S, Hellings PW, et al. Paediatric rhinitis: position paper of the European Academy of Allergy and Clinical Immunology. Allergy. 2013;68:1102-16.

5. Custovic A, Simpson A. The Role of Inhalant Allergens in Allergic Airways Disease. J Investig Allergol Clin Immunol. 2012;22(6):393-401.

6. Matsui EC, et al. Indoor Environmental Control Practices and Asthma Management. Pediatrics. 2016 Nov;138(5). pii: e20162589.

7. Turner PJ, Kemp AS. Allergic rhinitis in children. J Paediatr Child Health. 2012;48:302-31.

8. Matsui EC. Environmental control for asthma: recent evidence. Curr Opin Allergy Clin Immunol. 2013;13:417-25.

9. Arshad SH, Tariq SM, Matthews S, Hakim E. Sensitization to Common Allergens and Its Association with Allergic Disorders at Age 4 Years: A Whole Population Birth Cohort Study. Pediatrics. 2001;108(2):E33.

10. Kanchongkittiphon W, Gaffin JM, Phipatanakul W. The indoor environment and inner-city childhood asthma. Asian Pac J Allergy Immunol. 2014;32:103-10.

11. Morgan WJ, Crain EF, Gruchalla RS, O'Connor GT, Kattan M, Evans III R, et al. Results of a Home-Based Environmental Intervention among Urban Children with Asthma. N Engl J Med. 2004;351:1068-80.

12. Crocker DD, Kinyota S, Dumitru G, Ligon CB, Herman E, Ferdinands JM, et al. Effectiveness of Home-Based, Multi-Trigger, Multicomponent interventions with an environmental focus for reducing asthma morbidity: a community guide systematic review. Am J Prev Med. 2011;41(2S1):S5-S32.

13. Platts-Mills TAE, Vaughan JW, Carter MC, Woodfolk JA. The role of intervention in established allergy: Avoidance of indoor allergens in the treatment of chronic allergic disease. J Allergy Clin Immunol. 2000;106:787-804.

14. Phipatanakul W. Environmental factors and childhood asthma. Pediatr Ann. 2006;35(9):646-56.

15. Wright L, Phipatanakul W. Environmental Remediation in the Treatment of Allergy and Asthma: Latest Updates. Curr Allergy Asthma Rep. 2014;14:419.

16. El-Ghitany E, El-Salam MMA. Environmental intervention for house dust mite control in childhood bronchial asthma. Environ Health Prev Med. 2012;17:377-84.

17. Halken S, Host A, Niklassen U, Hansen LG, Nielsen F, Pedersen S, et al. Effect of mattress and pillow encasings on children with asthma and house dust mite allergy. J Allergy Clin Immunol. 2003;111:169-76.

18. Bush R. Does Allergen Avoidance Work? Immunol Allergy Clin N Am. 2011;31:493-507.

19. Shirai T, Matsui T, Suzuki K, Chida K. Effect of Pet Removal on Pet Allergic Asthma. Chest. 2005;127:1565-71.

20. Portnoy J, Kennedy K, Sublett J, Phipatanakul W, Matsui E, Barnes C, et al. Environmental assessment and exposure control: a practice parameter - furry animals. Ann Allergy Asthma Immunol. 2012;108:223, e1-15.

21. Rosenstreich D, Eggleston P, Kattan M, Baker D, Slavin R, Gergen P, et al. The role of cockroach allergy and exposure to cockroach allergen in causing morbidity among inner-city children with asthma. N Engl J Med. 1997; 336:1356-63.

22. Sheehan WJ, Rangsithienchai PA, Wood RA, Don Rivard BA, Chinratanapisit S, Perzanowski MS, et al. Pest and allergen exposure and abatement in inner-city asthma: a Work Group Report of the American Academy of Allergy, Asthma and Immunology Indoor Allergy/Air Pollution Committee. J Allergy Clin Immunol. 2010;125(3) 575-81.

23. Portnoy J, Chew GL, Phipatanakul W, et al. Environmental assessment and exposure reduction of cockroaches: a practice parameter. J Allergy Clin Immunol. 2013;132:802.

24. Jaakkola M, Quansah R, Hugg TT, Heikkinen SAM, Jaakkola JJK. Association of indoor dampness and molds with rhinitis risk: a systematic review and meta-analysis. J Allergy Clin Immunol. 2013;132:1099-110.

25. Sauni R, Uitti J, Jauhiainen M, Kreiss K, Sigsgaard T, Verbeek JH. Remediating buildings damaged by dampness and mold for preventing or reducing respiratory tract symptoms, infections and asthma (Review). Cochrane Database of Systematic Reviews. 2011, Issue 9. CD007897. DOI: 10.1002/14651858.CD007897.pub2.

26. Matt GE, Quintana PJE, Hovell MF, Bernert JT, Song S, Novianti N, et al. Households contaminated by environmental tobacco smoke: sources of infant exposures. Tobacco Control. 2004;13:29-37.

 

 

2024 Associação Brasileira de Alergia e Imunologia

Rua Domingos de Morais, 2187 - 3° andar - Salas 315-317 - Vila Mariana - CEP 04035-000 - São Paulo, SP - Brasil - Fone: (11) 5575.6888

GN1 - Sistemas e Publicações